Agora eu sou mais um louco no bando”. Ronaldo não poderia ter escolhido frase melhor para usar em sua apresentação no Corinthians. Ali, no dia 12 de dezembro de 2008, o Fenômeno adotou o Timão na mesma intensidade que a Fiel o adotou. E durante os dois anos e dois meses em que vestiu a camisa 9 de um dos clubes mais populares do Brasil, o atacante viveu mais felicidades do que tristezas.
É verdade que o final não foi o esperado pelos corintianos. Nem por ele. Mas o fato é que o Timão levará para o resto de sua história o status de palco da despedida de um dos maiores jogadores que o futebol já viu. A relação entre os dois, aliás, começou como piada. Poucos acreditaram quando o namoro começou. Mas na manhã de 9 de dezembro de 2008, o site do Corinthians avisou: “2009 Fenomenal”.
A manchete do Alvinegro foi premonitória. A temporada de 2009 foi realmente fenomenal para o Corinthians. Recém-promovido à elite do futebol brasileiro depois de um calvário na Série B, o clube conquistou o Campeonato Paulista de maneira invicta e também a Copa do Brasil, assegurando uma vaga na Libertadores da América. E ambas tendo Ronaldo, sua principal estrela, como protagonista.
O Fenômeno, para o bem ou para o mal, é sempre o ator principal por onde passa. Só em sua passagem pelo Corinthians, o início foi de vilão. No final de fevereiro de 2009, o técnico Mano Menezes resolveu levar Ronaldo para sua primeira viagem. No caso, Presidente Prudente. Mas em um dia de folga para o elenco, ele se reapresentou no hotel às 5h, quando o horário era 22h.
Ronaldo havia passado a noite em uma casa noturna da cidade do interior paulista. Para abafar o caso, comissão técnica e diretoria do Timão decidiram anunciar a data da estreia do camisa 9. Seria no dia 4 de março de 2009, contra o Itumbiara, pela primeira fase da Copa do Brasil. E nesse dia, a pequena cidade do interior de Goiás parou. Por 27 minutos, ele esteve em campo. Mas a mobilização foi de final.
O craque começou na reserva, mas sua entrada em campo foi triunfal. Havia tantas pessoas no gramado do estádio Juscelino Kubitschek que ele mal conseguia andar. Até mesmo o momento do seu aquecimento foi um evento. Mas o melhor ficou guardado para o dia 8 de março, em Presidente Prudente. Era um clássico com o Palmeiras. E Ronaldo novamente entrou apenas no segundo tempo.
A partida estava complicada para o Timão, que perdia por 1 a 0. Mas já nos acréscimos, após escanteio da direita, Ronaldo subiu mais do que todos os zagueiros alviverdes e marcou de cabeça, que nem é a sua especialidade. O empate, no entanto, virou detalhes. O que marcou mesmo foi o feito do camisa 9, que na comemoração subiu no alambrado para comemorar com a torcida.
Até aí ele fez história: o alambrado cedeu, caiu no chão e virou ponto turístico da cidade paulista. Lá, há uma placa em que fiz “Alambrado Fenomenal”. Começava ali sua história de gols pelo Corinthians. Mas foi na final do Paulistão, contra o Santos, na Vila Belmiro, que o atacante chegou ao auge no Timão ao marcar dois golaços na vitória por 3 a 1. Pouco tempo depois, ele também conquistou a Copa do Brasil.
O primeiro semestre de 2009, sem dúvida, foi o único excepcional de Ronaldo no Corinthians. Depois disso, o atacante não foi tão decisivo. Apenas esporadicamente. Tudo começou a piorar quando ele fraturou a mão em julho de 2009, em um clássico com o Palmeiras. De lá para cá, ele conviveu constantemente com lesões e com problema de peso. Nunca mais foi o mesmo. Teve poucas sequências de jogos e não apresentou a mesma mobilidade de antes. Mas iniciou 2010 se preparando para a Libertadores da América no ano do centenário.
Porém, a competição seria sua grande frustração no Corinthians. Depois de uma primeira fase impecável, o Timão encarou o Flamengo nas oitavas de final. E foi eliminado precocemente. Ronaldo, então, viu de perto a primeira crise no Timão. Moderada, é verdade, mas uma crise. A torcida pediu a saída e Mano Menezes do cargo de técnico, mas a diretoria alvinegra resolveu renovar seu contrato.
Começava ali, então, uma caminhada pelo título brasileiro. Mas a maior parte dela sem Ronaldo. Com várias lesões musculares e também uma no púbis, o Fenômeno voltou a jogar no Brasileirão apenas na reta final, já sem Mano, sem Adilson Batista e com Tite. O atacante pouco fez pelo time e junto dos companheiros viveu a frustração de perder um título nacional que estava nas mãos do clube.
Durante esse processo, o Corinthians viveu um processo de crise mais intenso, com torcida invadindo o CT, cobrando os jogadores... Mas de certa forma, a vaga na Libertadores de 2011 amenizou o clima de pressão. Por ora. Até porque a turbulência neste ano começou cedo. Bem cedo. Por ter terminado o nacional em terceiro, o Timão teve de disputar a primeira fase da Libertadores. Eliminatória.
Estava diante do Corinthians, então, o Deportes Tolima, desconhecido time da Colômbia. Depois de um 0 a 0 no Pacaembu e de uma derrota por 2 a 0 em Ibagué, o Timão estava precocemente fora da Libertadores. Ronaldo foi o primeiro a se pronunciar depois da queda. E não sabia o que dizer. Estava confuso. Parecia prever que a maior crise depois do rebaixamento estava por vir.
E veio. Torcedores do Alvinegro pediram sua saída do time. Arremessaram pedras no ônibus do clube, quebraram carros de atletas e funcionários, confrontaram com a polícia... Cenas de horror que assustaram e indignaram Ronaldo. Sendo assim, cansado das dores, Ronaldo decidiu parar com 69 jogos e 35 gols pelo Timão. Parou com dois títulos e três frustrações, mas mesmo assim como ídolo da Fiel.
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