segunda-feira, 8 de março de 2010

SS: Opala de sangue quente(O raro sedã esportivo dos anos 70 e contamos sua história)







Nos anos 60 havia poucas opções de esportivos no Brasil. Os importados eram caros e exclusivos. Modelos como o Mustang, Camaro e Mercury Cougar custavam milhões e despertavam desejo nas ruas.

No final da década, a Chrysler lançou o Dodge Dart. Não era um bólido, mas seu motor com oito cilindros em V passou a acalentar sonhos. Em 1970 a história ganharia novos rumos e o público teve a oportunidade de conhecer o primeiro esportivo de alto desempenho do Brasil. De acordo com nossos padrões, é claro.

O exemplar das fotos é raríssimo. A GM lançou a versão com quatro portas e deixou o público boquiaberto em junho de 1970. Faixas laterais e sobre o capô chamavam a atenção de longe e a sigla SS se destacava na grade dianteira. As rodas com desenho exclusivo também se tornaram uma das marcas registradas do modelo.

Por dentro, o ambiente não deixava dúvidas sobre a vocação esportiva. Volante de três raios e conta-giros convidavam o motorista a pisar fundo. Uma história curiosa diz respeito ao significado do logotipo. Na verdade, se refere aos assentos separados (separated seats), apesar de muita gente evocar a tradição norte-americana de super sport. Mas podemos dizer que esta última também faria todo o sentido.

A própria Chevrolet, no folheto de propaganda da primeira versão, apelava para os primos ianques, citando Camaro e Chevelle. Câmbio de quatro marchas no assoalho, freios a disco nas rodas dianteiras e aceleração de 0 a 100 km/h em 12,6 segundos eram destacados. Como opcionais, apenas rádio, desembaçador e ar-condicionado.

Além da cara de poucos amigos, outra novidade estava debaixo do capô: o motor de seis cilindros em linha recebeu um aumento de cilindrada, passando de 3,8 litros para 4,1, tornando-se um ícone entre os apaixonados por Opala e recebe até hoje diversas receitas de preparação. A potência chegava a 140 cavalos brutos a 4.000 rpm. A velocidade máxima quase encostava nos 170 km/h.

Logo após o lançamento, o esportivo foi testado por Emerson Fittipaldi e Colin Chapman. Ambos registraram suas impressões para uma reportagem no autódromo de Interlagos. O inglês elogiou o carro e declarou que compraria um se morasse no Brasil. Emerson gostou, mas disse que quatro portas não combinavam com esportividade.

Vale destacar que a Envemo, que fez versões exclusivas também nos anos 80, criou uma versão especial do carro. O Opala/E trazia diferenciais no acabamento, aparência e no motor. Ele era equipado com spoilers, faróis auxiliares e rodas esportivas de tala larga com aros cromados.

O folheto dizia em letras garrafais: “um carro diferente para quem quer ser diferente”. Bem bolado. A revista Autoeporte testou um destes exemplares na edição de fevereiro de 1970. O catálogo trazia dezenas de opcionais, tais como console, rodas, diferencial autoblocante, amortecedores, volantes, emblemas, frisos e manômetros diversos. Personalização de bom gosto.

Voltando ao modelo “envenenado” de fábrica, as revistas especializadas ajudaram a criar a fama e dividir o público. Os comparativos entre SS, Maverick GT e Dodge Charger R/T geravam – e ainda geram – uma discussão sadia a respeito dos números. Isso sim é paixão.
A novidade da carroceria cupê chegou em 1972, com todo o charme do fastback. Novamente a publicidade agressiva se fez presente. O modelo aparecia saltando e com o motorista vestindo luvas antes de dirigi-lo. Bons tempos, onde a criatividade em destacar a performance do veículo não era confundida com o estímulo do desrespeito às regras de trânsito, como ocorre hoje em dia.

Três anos se passaram e o Opala foi reestilizado com bastante sucesso. Em 1976 o motor 250-S chegou para enfatizar o desempenho e conquistar ainda mais fãs. A potência saltou para 171 cv brutos e o modelo se tornou o mais rápido do Brasil. Nesse período foi lançado o SS-4, como opção de economia e com esportividade apenas na aparência.

Com a chegada da nova década e concorrentes mais leves e rápidos, a versão esportiva disse adeus, no final de 1980. Os exemplares desse ano se tornaram raros e agora já podem solicitar a desejada placa preta. Mais do que uma sigla, o SS despertou desejo, paixão e incomodou a concorrência. Três fatores que o transformaram em um verdadeiro mito.

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